Todos nós passamos por ciclos de mudanças de hábitos!
Em geral, começamos uma atividade, qualquer que ela seja, com grande entusiasmo, mas a terminamos exatamente de onde saímos. Dieta é um excelente exemplo. De início, todas as orientações nutricionais são seguidas à risca, com o objetivo de perder peso. Após algum tempo, ocorre o desânimo, e as pessoas voltam ao peso original.
O mesmo acontece, com frequência, nas organizações. As pessoas participam de treinamentos, enfrentam desafios (descem o rio de canoa, fazem escaladas por cordas suspensas), saem cheias de energia, mas, decorrido certo período, tudo volta ao que era antes. Pior ainda: após alguns desses ciclos, grande parte dos funcionários desenvolve um cinismo crônico e, muitas vezes, com toda a razão. Vão para os treinamentos, mas sabem que nenhuma mudança significativa ocorrerá, e isto se torna uma profecia. Ou seja, por acreditar que nada vai acontecer, aumentam as chances de realmente nada acontecer.
Sou da opinião de que o problema não está somente nas pessoas e, sim, muito mais, no sistema em que se encontram. O sistema determina o comportamento. Um sistema que alimenta disputas de egos e que gera grande quantidade de emoções reprimidas acaba ficando intoxicado, e, daí, qualquer indivíduo saudável que nele se insira pode adoecer.
Se considerarmos as organizações como entidades à parte, separadas de nós — e alguns teóricos acreditam que possam até ter características de organismos vivos de tão complexas que estão se tornando, mas este é assunto para um artigo mais longo —, elas certamente estarão doentes, e nós também, pois somos parte delas. Porém, somos agentes capazes de processar essas tensões que surgem e adoecem as organizações e colocá-las num processo evolutivo contínuo, em que as relações se tornem mais saudáveis e as pessoas possam alavancar o seu desenvolvimento individual.
Para tal, precisamos de líderes e de colaboradores dispostos a tratar a organização tal qual tratamos nossos filhos: com cuidado, respeito e determinação. Esse é o papel que essa organização exerce perante o mundo: respeitar também cada componente, ou seja, cada célula desse organismo, no caso, as pessoas que lá trabalham. Esse respeito irá gerar o ingrediente mais fundamental de todas as relações humanas, que é a confiança, e a possibilidade de cada um poder expor suas forças e dificuldades, pois, somente quando temos consciência de nossas dificuldades e as explicitamos, é que trabalhamos para aprimorá-las ou complementá-las com as forças de outras pessoas. Negar e esconder uma dificuldade não irá transformá-la em uma força.
Pode parecer uma utopia, um sonho, mas tudo neste mundo começou com um sonho. Não esqueça de que, há poucos séculos, praticamente todos os homens eram escravos, no sentido de não terem a chance de ser a força criadora em sua vida.
O local de trabalho não deve provocar sofrimento, mas, sim, proporcionar condições para que possamos expressar nossa essência, nossos talentos mais fundamentais, nossa realização plena. E, acredito, este é um desafio de longo prazo para todo gestor consciente.
Frederico Porto é Psiquiatra, Nutrólogo e Professor convidado da Fundação Getúlio Vargas e Fundação Dom Cabral. Atua também como Coach e Consultor de Empresas.