Pela primeira vez no Brasil a classe média corresponde à metade da população, com uma participação correspondente a 95 milhões de pessoas, sendo que 31 milhões são novos integrantes que ascenderam socialmente através das políticas de proteção social, crescimento econômico, aumento de escolarização, mais empregos formais e informais e maior acesso ao crédito.
Esse cenário representa um novo perfil socioeconômico do país.
Os novos consumidores da classe média correm para as lojas exercendo seu novo poder de compra. O lado B dessa euforia: o endividamento e até mesmo o superendividamento.
O ensino da educação financeira para crianças e jovens nas escolas poderia preparar as famílias para essa nova realidade. O crédito, importante para alavancar a classe pobre, passou a ser um risco, quando mal utilizado. As facilidades de financiamento são ilusórias para aqueles que não sabem como planejar suas despesas.
Nos primeiros meses de 2012, apesar das reduções dos juros, as vendas a crédito não aumentaram, o que surpreendeu os economistas. O que aconteceu foi que o poder de compra das classes C e D encontrou um limite no endividamento das famílias. As reduções de juros que aconteceram em abril e maio não promoveram o crescimento no consumo, que, ao contrário, caiu em relação a março deste ano.
Verifica-se que a inadimplência das pessoas físicas reduz novos créditos. De acordo com a Fundação Getúlio Vargas, o índice de inadimplência foi de 5,9% em março e abril e aproximadamente 25% dos brasileiros estão com dívidas significativas. Em sua maioria os casos de endividamento se relacionam com o financiamento de automóveis.
Os compradores, em sua maioria da nova classe média, não avaliaram o real impacto que as compras teriam em longo prazo. Enquanto as prestações atrasadas não forem quitadas, não será possível decidir por novas aquisições de bens e empréstimos. Isso quer dizer que as
famílias têm de liquidar os financiamentos assumidos para continuar a manter o seu padrão de vida.
Atualmente o momento é de reciclagem dos conhecimentos sobre economia doméstica e planejamento de orçamentos, obrigando as famílias a se reorganizarem para passar para um novo patamar de crescimento.
A educação financeira vem sendo aprendida na prática, na medida em que surgem as dificuldades. As medidas de redução de taxas de juros não surtem efeito no consumo se a população se tornar cada vez mais endividada. Também no caso de renegociação das dívidas com taxas mais baixas, a capacidade de endividamento pode se manter, ao invés de diminuir, porque folgas no orçamento pode ser preenchidas com novas dívidas.
O consumo promove um círculo vicioso, que poderá mudar com informação e educação, para que as famílias da nova classe média desenvolvam um novo comportamento e mentalidade em relação ao dinheiro.