Como já havíamos discutido neste espaço, o nível da nossa produtividade é baixo e tem crescido lentamente. Discutimos, também, que esse padrão ajuda a explicar o modesto crescimento médio da renda per capita das últimas décadas e que a aceleração da taxa de crescimento da produtividade é condição para a redução da pobreza e da desigualdade, aumento da competitividade internacional e enfrentamento de muitos dos nossos desafios futuros, tais como os crescentes gastos com saúde e aposentadorias decorrentes da transformação demográfica.
O aumento da produtividade não é um evento fortuito. Longe disso, ele resulta de ações de governos, empresas, famílias e indivíduos e das condições de operação e de competição nos mercados. Ou seja, a produtividade é uma variável que está, de certa forma, "sob controle", já que é possível intervir para alterá-la. Se assim é, que áreas deveriam merecer maior atenção para aumentar a produtividade?
Uma primeira é a discrepância de produtividades entre empresas, que é bastante alta no Brasil. A interdependência entre as empresas, por meio das cadeias de produção e da terceirização, leva a que a produtividade individual tenha impacto coletivo. Os serviços, que são insumos cada vez mais importantes em todas as atividades produtivas, e as micro e pequenas empresas (MPE), que perfazem 99% do total, têm produtividades médias particularmente baixas, contagiando a produtividade de toda a economia. Para dar conta do problema, são necessárias políticas específicas que promovam o maior acesso daqueles setores a mercados, tecnologias, inovação, capital humano e crédito, e políticas compreensivas, como a integração do setor de serviços à política industrial e tecnológica e a criação de oportunidades para que as MPEs participem de cadeias produtivas mais sofisticadas - experiências inspiradoras das cadeias do petróleo, aeronáutica e agronegócio sugerem que empresas maiores e de alta tecnologia podem contribuir decisivamente para elevar a produtividade e a competitividade das MPEs.
É preciso ampliar a qualificação e o acesso dos grupos vulneráveis a mercados, crédito, informação e tecnologias
A segunda área é o capital humano, que é limitado e deficiente. Tão importante quanto mais recursos e melhores salários é a necessidade de se criarem melhores infraestruturas para que professores e escolas possam entregar aos alunos uma educação de qualidade e prepará-los para os desafios do século XXI. É preciso focar mais na qualidade da educação básica, adequar os currículos aos requerimentos do mercado de trabalho, alocar recursos com base em resultados, introduzir as melhores práticas de gestão, governança e transparência nas escolas e criar condições adequadas de trabalho para atrair e reter os melhores talentos. Quanto à educação profissional, é preciso estruturar as escolas para que complementem o ensino regular com a educação profissional e encorajar as empresas a investirem mais nos seus funcionários.
A terceira é a realocação de recursos para setores mais produtivos. É preciso fomentar políticas que encorajem os investimentos em setores mais inovativos e intensivos em capital e tecnologia, que têm maior potencial de transbordamento de tecnologias em outros setores e que criem mais e melhores empregos.
A quarta área é a produtividade sistêmica. É preciso melhorar a qualidade e a provisão de serviços públicos, notadamente educação, saúde, segurança, mobilidade urbana e logística, reduzir os impostos, a burocracia, o custo do capital e a insegurança jurídica e aumentar a previsibilidade das políticas econômicas.
A quinta é o engajamento do Brasil na economia mundial. O Brasil precisa produzir mais bens e serviços que tenham valor global. Isto porque evidências empíricas mostram que exportação e participação em cadeias produtivas internacionais são um poderoso vetor de aumento da produtividade. É preciso, também, aumentar a absorção de ideias e tecnologias por meio da maior cooperação com outros países nos campos da ciência, tecnologia e investimentos, e aproveitar a oportunidade da crise econômica internacional para atrair cientistas, engenheiros e técnicos.
A sexta área é a agregação de valor aos produtos. Muito além do aumento do estoque de capital por trabalhador, é preciso promover marcas, investir mais em design, moda, novas tendências, novas tecnologias e, sobretudo, em inovação, de forma a qualificar as empresas a explorarem mercados de alto valor agregado.
A sétima é a diversificação da economia. A diversificação fortalece as cadeias produtivas, encoraja o investimento em inovação e tecnologia, reduz a dependência da economia de alguns poucos setores, protege-a de choques externos e ajuda a reduzir a volatilidade do crescimento.
A oitava área é a competição. A competição não garante o aumento da produtividade, mas sem ela fica mais difícil que a produtividade aumente. É preciso reduzir os custos de entrada e saída de empresas nos mercados, remover obstáculos legais que inibem a competição e reduzir os oligopólios e monopólios.
A nona é a cultura da meritocracia. A meritocracia é condição para que as pessoas possam calcular os riscos de investir em capital humano e se interessar por empreendedorismo, inovação e tecnologia.
Por fim, mas não menos importante, é a área da pobreza e da desigualdade. O aumento da produtividade dos pobres é o mais poderoso instrumento de inclusão social, a qual, por sua vez, eleva a produtividade média. É preciso ampliar a qualificação e o acesso dos grupos vulneráveis e microempreendimentos informais a mercados, crédito, informação e tecnologias.
Não faltam iniciativas, públicas e privadas, com impactos potenciais na produtividade. O Bolsa Família, microcrédito, Pronatec, Programa Ciências sem Fronteiras, concessões, Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), reforma do Cade e a criação da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural são apenas alguns exemplos. Considerando-se a urgência, a necessidade e o tamanho do desafio de elevar a produtividade no Brasil, serão necessários esforços de integração das políticas já existentes e das políticas sugeridas em torno de uma estratégia comum de forma a lhes dar coerência, consistência e maior eficácia e eficiência.