De modo geral, adiamos aquelas tarefas que não nos trazem prazer, mas que temos que fazer, pois, se não as realizarmos, seremos punidos por isso, de algum modo. Chamamos esse tipo de adiamento de procrastinação. Costumeiramente, adiamos aquelas tarefas que, ou demandam um esforço muito grande, ou um tempo muito grande, ou uma exposição muito grande. Todos nós procrastinamos em algum grau na vida quotidiana, porque aquilo que nos traz prazer compete com as obrigações.
Deixamos para a última hora aquilo que não tem mais como ser adiado, até a iminência da punição. Porém, deve-se acender o sinal amarelo quando uma pessoa leva a vida no “depois eu faço”. Nesse caso, usualmente, a pessoa não gosta do que faz. Ela faz aquilo por dinheiro, por status social, ou por alguma outra razão externa a ela mesma, e vive desconectada de suas motivações internas. Naturalmente, essa condição mina o desenvolvimento e a autoconfiança da pessoa, prejudica a capacidade de entrega de um bom trabalho e traz infelicidade.
O fato é que não podemos simplesmente nos deixar de lado. Para realizarmos um bom trabalho e nos colocarmos no caminho da autorrealização é importante estarmos bem conectados e alinhados com nosso íntimo – “Se somos nossa morada, fica fácil de ir a qualquer lugar”, sabiamente disse a personagem Mafalda. O nosso interesse íntimo é a o ponto de partida para planejarmos nossa vida e escolhermos nossas atividades.
Do ponto de vista organizacional e da educação, vale a pena citar que as pessoas que mais tendem a viver procrastinando são aquelas que não tem claro quais são suas obrigações e quais são os prazos de cada tarefa. Para esses casos, os malefícios do adiamento não estão claros e a pessoa se prejudica sem ter o claro discernimento do que a está fazendo mal, muito embora possa sentir na pele o mal da falta de ordem.
Além das soluções óbvias de buscar fazer o que gosta e da importância de planejar as suas tarefas e daqueles que você precisa cuidar do comportamento, o que pode ser feito diante da procrastinação?
Resolva o que é chato primeiro. Depois que a situação é resolvida, a mente fica mais limpa e leve para aproveitar as atividades que trazem prazer, sem o peso da preocupação. Se a tarefa é grande e laboriosa, divida ela em tarefas menores e planeje a execução com prazos definidos para conclusão de cada uma das etapas. Assim, na medida em que você vai as executando, os resultados vão aparecendo aos poucos, o que dá motivação para seguir adiante.
Alexandre Romeiro é psicólogo, mestre pela FGV e diretor do Centro
Mindsight. Atua como professor da IBE-FGV e coaching de executivos e de negócios.