Existe um novo modelo de estudo de liderança, baseado na análise do cérebro dos tomadores de decisão, que permite maior eficácia e eficiência para o desenvolvimento dos líderes nas empresas.
Porém, uma questão surge dessa nova possibilidade. Essa liderança pode ser aprendida ou os líderes já nascem assim? É como perguntar: “Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?”. As pessoas ficam, de certa forma, divididas sobre a origem da capacidade de liderança que um indivíduo pode apresentar. Uns acreditam que o ser humano nasce “zerado” como um cartão de memória, prontinho para ser preenchido com muitas informações durante sua vida útil, e essas informações lhe permitiriam aprender algumas habilidades importantes para sua sobrevivência. O outro grupo acredita que o indivíduo chega ao mundo com alguma carga de informação herdada dos seus genitores e durante a vida ele apenas aprimora (acessa) o seu talento. A ciência moderna permite afirmar que ambos os lados estão certos.
Os avanços em disciplinas como a Biologia Molecular, a Neurociência, a Antropologia e a Economia Comportamental possibilitaram um melhor entendimento do comportamento das pessoas, em especial na vida econômica. Essas mesmas disciplinas formam a base do que hoje os estudiosos da Neuroeconomia chamam de Neuroliderança, a qual estuda o comportamento dos líderes e dos liderados por meio de análises fisiológicas e comportamentais das relações produtivas e comerciais dentro das organizações.
O comportamento tem 50% de origem genética (transmissão de informações hereditárias; por exemplo, a fisionomia) e 50% de origem memética (educação, cultura, religião, gosto musical, etc.). Estudos recentes levados a cabo por equipes diferentes em vários lugares do mundo (com destaque para a equipe do Dr. Jan-Emmanuel De Neve da University College, no Reino Unido, que mapeou amostras genéticas de mais de 4.000 pessoas) conseguiram mapear o “genótipo da liderança”, chamado rs4950, que está relacionado com a transferência da capacidade de liderança entre as gerações.
Por outro lado, experiências de vida, cursos de liderança, coaching executivo, livros e outras intervenções na área de liderança empresarial fazem toda a diferença. A velha máxima das escolas de negócios ainda é válida: “Antes de contratar um curso de liderança, veja onde as pessoas que estudaram nesse curso estão hoje”. Porém, aqui cabe uma pergunta: Como exatamente isso acontece? Mesmo que uma pessoa não disponha de uma predisposição genética para ocupar cargos de liderança, ela pode desenvolver tais habilidades por meio da criação do “hábito de liderar”. Ao longo do desenvolvimento do hábito, a pessoa destrói conexões cerebrais (sinapses) antigas e cria novas conexões responsáveis pelo comportamento benéfico ao desenvolvimento da liderança, por exemplo, o controle do medo.
Outro componente do desenvolvimento do líder é o ambiente de atuação de sua liderança. A forma como uma pessoa percebe o mundo depende do mix de informações inconscientes e conscientes associado ao ambiente. Evidentemente cada indivíduo tem sua história de vida, assim como cada local do mundo tem sua cultura, sua característica geográfica, e cada setor da economia tem suas especificidades. Entretanto, de uma maneira geral, fica claro que a junção entre o desenvolvimento biológico do indivíduo, sua experiência de vida e o ambiente em que vive formará ou determinará sua capacidade de liderança. Para se ter uma ideia prática desse efeito, basta se colocar no lugar de um profissional que sai de Recife para trabalhar em Caxias do Sul. Ou então alguém que trabalhe em uma empresa com a cultura organizacional muito forte no que se refere ao respeito da hierarquia e que vai trabalhar na Google, que é uma empresa conhecida pela forma liberal com que trata seus colaboradores. Em ambos os casos, o líder passará por um período de adaptação, caso contrário corre o risco de se tornar um “corpo estranho” na empresa.
Portanto, é possível identificar três variáveis na formação do líder. Na área da genética, empresas como a americana 23andMe já realizam o serviço de mapeamento genético de profissionais nos EUA e em alguns outros países de língua inglesa. Outro ponto importante para o desenvolvimento de lideranças é a experiência de vida (ou os memes que esse indivíduo tem instalado em seu cérebro). Por exemplo, a educação executiva em gestão e liderança, que ainda se apresenta como a melhor solução disponível. E, por fim, o ambiente em que o exercício da liderança será levado a cabo. Vale lembrar que tudo o que vemos, cheiramos, tocamos ou sentimos, de alguma forma, acarreta múltiplas percepções e cuidar para que o ambiente esteja de acordo com o objetivo organizacional é sem dúvida algo que deve estar no topo da lista dos gestores. Empresas como a Virgin, a Netflix e a Embraer desenvolveram programas de criação de ambientes específicos para o desenvolvimento de seus líderes.
Pesquisador e professor da FGV Management, José Chavaglia Neto, palestrante em Neuroeconomia, Neuromarketing e Neuroinovação.