22 de setembro, comemoram-se os 71 anos da criação do curso de Ciências Contábeis no Brasil, através do Decreto-Lei nº 7.988. Neste dia, entretanto, em vez de festejar, deveríamos refletir a respeito da profissão.
Se o principal objetivo do Contador é o de usar os seus conhecimentos acadêmicos no estudo do patrimônio monetário das pessoas jurídicas para ajudá-las a prosperar, gerando emprego e renda; e o da Contabilidade, o de usar as suas técnicas para registrar os atos de gestão, gerando informações dos elementos que formam este patrimônio, para controlar a riqueza, dificultando, assim, os desvios e as falcatruas, então, por que motivo, mesmo após décadas da criação da profissão contábil, a maior preocupação de nosso país continua sendo como parar os desvios, as falcatruas e a corrupção entranhada em todos os escalões do governo?
Diante desta questão, seguem as seguintes, que nada mais são do que desdobramentos naturais da primeira: Por que a sociedade e os governos não valorizam o Contador e a Contabilidade? Por que o Conselho de Contabilidade não defende o campo profissional dos contadores? Por que os sindicatos, que deveriam defender os profissionais, não o fazem?
O Brasil é o único país “não tribal” do planeta que não possui departamento de contabilidade com autonomia técnica e funcional, mas um “sistema de contabilidade federal”, integrado pela Secretaria do Tesouro Nacional e por órgãos setoriais, unidades internas de gestão do Ministério da República e da Advocacia-Geral da União. A contabilidade da União não é dirigidapor um Contador.
Imagine se houvesse mais união entre os conselhos de Contabilidade, sindicatos e profissionais contábeis, com ações integradas, visando dar um basta na corrupção e nos desvios dos recursos públicos? A riqueza nacional certamente estaria mais protegida e os governos não teriam tanta facilidade em desviar o dinheiro público. Além disso, as multinacionais não teriam tanta liberdade para transferir divisas disfarçadas por meio de lucros fictícios e de aquisições de mercadorias superfaturadas.
Refletindo um pouco sobre o que vem acontecendo no cenário nacional, a primeira pergunta que vem à mente é: Será que não são os contadores mesmos os responsáveis pela perda de credibilidade da sua profissão? Na hora de elegerem os seus representantes junto aos conselhos e entidades da categoria, observa-se que eles pouco se preocupam com a profissão contábil ou com os desdobramentos desta escolha para si e para a sociedade.
É preciso, ainda, que as entidades da classe contábil saiam um pouco da sua zona de conforto e participem mais da vida econômica e social do país, dos problemas dos profissionais, cobrando providências junto aos órgãos públicos. Do contrário, a profissão contábil seguirá sendo manipulada, desvalorizada e desrespeitada.
PARABÉNS AOS CONTADORES PELOS 71 ANOS DE SUA EXISTÊNCIA!
Salézio Dagostim é contador; pesquisador contábil; professor da Escola Brasileira de Contabilidade (EBRACON); autor de livros de Contabilidade; presidente da Associação de Proteção aos Profissionais Contábeis do Rio Grande do Sul - APROCON CONTÁBIL-RS; presidente da Confederação dos Profissionais Contábeis do Brasil - APROCON BRASIL; e sócio do escritório contábil estabelecido em Porto Alegre (RS),Dagostim Contadores Associados, à rua Dr. Barros Cassal, 33, 11º andar - salezio@dagostim.com.br.