O surgimento das contabilidades online a baixo custo elevou a um nível desproporcional a competição pela contratação de serviços para a entrega das obrigações ao fisco. Respaldadas pelos altos investimentos em tecnologia e marketing, algumas delas conseguiram reunir milhares de clientes com o forte argumento de que cobrariam menos de R$ 60,00 por algo que não custaria menos de R$ 300,00 no modelo tradicional.
Sem conseguir igualar tais condições, muitos escritórios contábeis sofreram com a fuga de clientes e, em alguns casos, tiveram até mesmo de fechar as portas. Mas será que a contabilidade online é a grande vilã? Não seria este um movimento natural diante da evolução tecnológica? É possível competir com esse tipo de serviço excessivamente barato e automatizado?
Para o palestrante e mentor de empresários contábeis, Roberto Dias Duarte, este é um movimento sem volta e que não ocorre somente no Brasil, mas no mundo todo, e ficou conhecido como “Contabilidade Faça Você Mesmo” (Accounting Do It Your Self, em inglês).
A boa notícia para os contadores que desejam empreender e os que já são empresários contábeis é que é possível, sim, competir com a contabilidade online. “Desde que usem as armas certas”, assinala Dias Duarte.
“Não adianta querer igualar os preços, pois o escritório no modelo tradicional não conseguirá prestar um serviço de qualidade em larga escala e, consequentemente, não resistirá no médio e longo prazos”, explica o especialista.
A solução, segundo ele, é investir em serviços que vão além da entrega das obrigações, cálculos de impostos e relatórios simples. Quando se consegue fornecer uma consultoria para melhorar a performance do cliente, atuando de forma direta na gestão financeira, a contabilidade passa a exercer um papel diferenciado, fugindo assim da mera competição por preço.
“Este é o que chamo do segundo nível da prestação de serviços contábeis. Existe ainda o terceiro, que é composto pelo aconselhamento estratégico e busca ajudar o cliente com a visão de longo prazo em tomadas de decisão referentes a fusões, aquisições e planejamento sucessório, dentre outras”, afirma Roberto Dias Duarte.
Agora, como escritórios contábeis pequenos, que muitas vezes têm menos de cinco funcionários, podem oferecer um serviço tão especializado aos seus clientes, de modo a se descolarem da competição pelos preços baixos do modelo online?
Para Dias Duarte, a única escapatória é os pequenos se fortalecerem atuando em parceria, seja prospectando em conjunto em segmentos estratégicos ou aderindo ao modelo de franquia.
“A franquia é outra tendência mundial muito forte na área contábil, não só porque já oferece todo o modelo de negócio já pronto, mas também porque se fortalece á medida que cresce o número de franqueados ao redor do país”, avalia o especialista.
“O escritório contábil comum muitas vezes precisa, ao mesmo tempo, cuidar da parte operacional, pensar como empresário e implantar todos estes processos. Não fez um plano de negócio e, com isso, se sente acuado e frustrado, porque não tem percepção de valor por parte do cliente. A franquia consegue tirar boa parte deste peso de um empreendedor, pois o ajuda a simplificar a parte operacional, a captar clientes e ainda o libera para se dedicar a tarefas mais estratégicas”, complementa.
A única forma de crescer atualmente é estabelecendo parcerias
Um destes pequenos empresários contábeis que conseguiu se reinventar diante desse novo modo de pensar e fazer a contabilidade é Edilson Júnior, presidente da CF Contabilidade. Ao perceber que a empresa já crescera o máximo que podia e enfrentava dificuldades para atender bem todos os clientes, decidiu criar a sua própria franqueadora e, em dois anos, já conta com 14 unidades espalhadas pelos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Mato Grosso.
Outra ação que tem surtido resultado, segundo Edilson Junior, é buscar parcerias com outras empresas contábeis para atacar nichos específicos.
“A única forma de crescer atualmente é estabelecendo parcerias e eu me dedico a isso todos os dias, participando de eventos e fazendo conexões que possam oferecer vantagens para ambas as partes”, relata o presidente da CF Contabilidade.
Não à toa, a empresa que atuava como um pequeno escritório em Bonsucesso, no Rio de Janeiro, hoje conta com mais de 800 clientes e pretende inaugurar mais 30 unidades somente neste ano.
“E o melhor é que hoje não vemos limite para o crescimento, pois estamos reunindo a força de vários empresários. A sensação é que nosso negócio não se estagnará nunca mais, pois é altíssima a demanda do mercado por serviços especializados, bem como a de contadores lutando para se fortalecer diante da acirrada competição com as contabilidades online baratas. É o que, no empreendedorismo, convencionou-se chamar de oceano azul”, comemora Edilson Junior.
*Fábio Guedes é jornalista